Sábado, 29 de Maio, de manhã. Estou ocupado à secretária e tenho a televisão sintonizada na RTP1. Para que conste.
A jornalista entrevista um homem sábio, que fala com muita tranquilidade sobre a vida que foi passando por ele ao longo de muitos anos, o querido ator Rui de Carvalho.
A tranquilidade do senhor desvanece-se, perturba-se, quando a conversa, como as cerejas, os leva a ambos para a pobreza e a miséria das crianças. Nessa altura eu olho para o écrã da televisão e vejo o venerando sábio chegar-se para a frente, a seguir procura fixar os seus olhos no olhos da jornalista que o interroga e, com o espanto incrédulo da criança que ainda está bem sensível dentro dele, pergunta-lhe: "Mas porquê?..."
Rui de Carvalho, no fundo, não é só à jornalista que faz aquela pergunta, é a todos nós. É ainda a pergunta que ele se habituou a fazer a ele próprio desde... olhem, desde a idade em que o Miguel, o nosso Guerreiro, começou também a fazê-la. É uma pergunta que atravessa gerações e nos acompanha durante toda a vida.
O Miguel, repito, Guerreiro também de mais esta causa, vem aqui hoje partilhar connosco a pergunta dele, que, como nos comprova o ator Rui de Carvalho, passa como um testemunho, de mão em mão. Só não sente quem não é filho de boa gente, não é o que diz o provérbio popular? Passam a pergunta para que se mantenha viva e só se cale quando todas as crianças puderem, um dia, cantar com a alegria com que o Miguel o faz.
A nossa querida embaixadora de hoje, Fernanda Freitas, escreveu no seu livro que as palavras cantadas numa canção têm uma facilidade e uma força para se espalharem rapidamente entre todos como as palavras escritas num livro não têm. Por isso ela também já escreveu palavras para canções.
Que dádiva maior poderia uma criança como o Miguel ter para as outras crianças, as tais que fazem o grupo social que mais é afetado pela pobreza e pela exclusão social, que esta, de cantar para essas crianças, de cantar com essas crianças, de sentir com elas a dor e o sofrimento do seu dia a dia?
E agora vou confessar-vos uma maldade que fiz. Desculpa lá, ó Miguel...
Um dia destes, o Miguel fechou-se no quarto a fazer as suas coisas. Eu não sabia o que era, mas ele foi lá para dentro todo entusiasmado. E, olhem, eu fui espreitar à fechadura da porta. Ele tinha juntado lá amigos dele, quase todos mais crescidos, uns compunham músicas, outros escreviam poemas, outros tovacam piano, guitarra, sei lá que mais!...
O Miguel virou-se para eles todos e disse-lhes, levantando lá bem ao alto, com o seu bracito direito, a canção do "Mas Porquê?":
- Olhem esta canção é o meu abraço a todas as crianças do mundo que não podem ser felizes e alegres como eu sou. Nesta canção eu quero tê-las todas ao pé de mim, num abraço grande, grande, grande. E agora quero canções para ir a seguir brincar com todas elas, são todas minhas amigas, quero canções para brincar com todos os meus amigos"
Os poetas, os músicos e os tocadores olharam uns para os outros, todos de olhos bem abertos, sorrisos largos nas suas caras e gritaram:
- Vamos a isso!... É para já!...
E foram todos trabalhar.
Depois, o Miguel pegou no telefone e ligou para outro amigo e disse-lhe:
- Olá, estás bom?, sabes, eu preciso da tua ajuda, tenho aqui uma coisa que quero dar a muitos meninos e meninas no Mundo e preciso de ti para a levares a todos os lados em que há crianças que precisam. Podes ajudar-me?
- Do outro lado da linha, alguém disse:
- Conta comigo!... Vamos a isso!...
Falou tão alto que eu consegui, do lado de fora da porta do quarto, reconhecer a voz. Era a voz da AMI.
- Desculpa, Miguel, se calhar, não querias que se soubesse já, mas, olha, eu sou assim, não consigo guardar segredos. E desculpa-me ter ido lá espreitar à fechadura do teu quarto. Espero que me perdoes, se não me puderes perdoar hoje, perdoa-me amanhã, que é o Dia Mundial da Criança, e eu também tenho cá dentro de mim uma criança igual a ti que, já vi pelo Rui de Carvalho, não vai largar-me toda a vida.
E já agora, conto-te uma história engraçada que aconteceu comigo, num Dia Mundial da Criança, há alguns anos: precisamente no dia 31 de Maio, eu enchi a bagageira do meu carro com brinquedos, que ia dar numa festa surpresa no Dia Mundial da Criança. Deixei-os no carro durante a noite, eram muitos, e alguns bem pesados, todos pagos por mim. Mas no dia 1 de Junho, saio de casa vou à procura do carro, mas não o encontrei. Tinham-me roubado o carro. Ainda bem que a festa era surpresa, assim as crianças não ficaram tristes, só eu. No dia 13 de Junho recebi um telefonema da polícia, tinham encontrado o meu carro. "Milagre de Santo António!", pensei eu. Quando cheguei ao pé do carro, fui logo à bagageira. Estava completamente vazia. E dei-me conta de ter pensado o seguinte, juro-to pela minha saúde!
"- No Dia Mundial da Crianças os filhos dos meus ladrões ficaram felizes a pensarem que têm os pais mais amigos do Mundo!"
Haja alegria, não é Miguel?
Estou contigo. Vamos abraçar todas as crianças infelizes e tristes que são as grandes vítimas da pobreza e da exclusão social. Vamos ouvir o teu "Mas Porquê?". Depois, assim que a gente possa, vamos brincar com elas, vamos cantar-lhes as outras cantigas do teu CD, que está a chegar. São tão bonitas, também!
Mais uma vez, muito obrigado, meu muito querido amigo, por estares outra vez aqui connosco.
Obrigado ao amigo Fernando Pinto
1 comentário:
Miguel, sabes que o dia 4 de Junho é o Dia Internacional das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão?
É um bom dia para todos cantarmos o Mas Porquê?
Obrigadinho!... Estou a ver que gostaste do que escrevi. Fico muito contente! Um grande abraço!
Enviar um comentário